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Achei que fosse apenas uma fase estressante, porque eu precisava atuar em uma área cuja habilidade técnica e experiência não tinha. Mas o entusiasmo pela chance que me deram e por mil oportunidades que eu poderia ter eram incríveis e inúmeras. Medo? Eu tinha, sim, mas o entusiasmo em aprender e em arrasar me moviam plenamente.

Três meses depois, sozinha em ter que fazer recomendações e executar as propostas e projetos – sem capacidade alguma – transformaram a minha rotina em dias estressantes, exaustivos e cheios de pressão. Da minha parte e da do meu gestor.

Não demorou muito para aquilo virar um pandemônio. Seis meses depois eu me vi bem triste, mas achava que eu só precisava de férias. Cansada, triste e exausta mentalmente, os primeiros sintomas começaram a aparecer: minhas mãos suavam e eu não tinha mais apetite.

Depois vieram as angústias na hora de dormir. Era tão extrema que eu parecia uma menina com medo de fazer a prova de matemática no dia seguinte, cheia de insegurança porque tinha certeza que iria falhar, tomar zero, ser exposta pelo professor, julgada pelos amiguinhos… Era uma frustração e uma tristeza infinita. Eu ia dormir com essa sensação.

No caminho do trabalho me sentia a mais incompetente, a mais burra, a mais farsante, a mais patética, a não merecedora de estar em uma companhia multinacional.
A pressão aumentava e a minha incapacidade técnica não ajudava em prazos. Para fazer rápido, a qualidade não era a esperada. O desespero tomou conta da minha concentração, foco e memória e, assim os erros começavam a surgir, dos mais primários aos mais absurdos. Eu sempre estava aflita.

Angustiada, aflita, mãos suadas, dores abdominais, apetite e auto-estima zero, outros sintomas assustadores vieram à tona: batimentos cardíacos aceleradíssimos, zumbidos, diarreias, vômitos e um medo absurdo em morrer tendo um AVC ou enfarto.

Os tremores nas mãos eram tão incontroláveis que já não mais conseguia segurar copos de café ou de água. Eu estava tão exausta, que até conseguia dormir rapidamente, apesar da angústia, mas as 3h27 da manhã eu sempre acordava e só ia dormir depois das 5h, para acordar as 6h e ir trabalhar naquele looping violento e insano.

Cheguei a pesar 39 kilos (!).

O dia que meus pais vieram em casa, numa visita rotineira, desabei a chorar e pedi ajuda, porque eu tinha a mais absoluta certeza de que eu iria morrer. Pedir ajuda foi o melhor que fiz. Admitir pra mim mesma que não era apenas uma fase e que eu estava realmente doente foi o melhor passo.

No consultório da psiquiatra, fui diagnosticada com transtorno depressivo ansioso (f.41.2).

Como cheguei até aqui?  Por que eu ? Mas eu sou tão alto astral, tão feliz, tão realizada…Por que deixei  um gestor me violentar tanto com seus joguinhos de terror psicológico? Por que não pedi ajuda antes? E agora? Vou sair desta?

Essas e tantas outras foram as perguntas que me fiz em outubro de 2017 e que têm sido respondidas somente agora. É um processo longo a ser percorrido, mas extremamente necessário, sobretudo, para me fortalecer, descobrir o que realmente preciso para ser feliz, sem arriscar a minha saúde e tomar decisões assertivas..

Eu me arrisco a dizer que todo mundo já teve um grande sonho e, por diferentes razões, não o realizou.

Eu já quis ser mochileira, morar fora do Brasil e explorar o mundo até conseguir falar pelo menos 4 idiomas.

Eu já quis ter um café charmoso, uma livraria e uma creperia no melhor estilo francês. Sem contar os sonhos de criança, tão graciosos e cheios de inocência, quando quis ser desde astronauta a cientista maluca.

Eu já quis ser mãe e não consegui.

Desejei muito ter uma casa exatamente como a que eu moro. Na verdade, onde moro é ainda melhor que a do meu sonho e realizei quando eu menos esperava.

Desejei, com toda a força do meu coração trabalhar em uma multinacional. E também, quando eu menos esperava, lá estava eu sentada em frente a uma headhunter, sendo avaliada e posteriormente encaminhada às duas entrevistas que mudaram a minha vida e que, enfim, garantiram a conquista de um grande sonho meu.

Eu me arrisco a dizer que todo mundo já teve um sonho e que depois de um certo tempo viu que aquilo não fazia mais o menor sentido.

Me arrisco a dizer que há muito eu não me sentia tão confiante, tão pé no chão, tão decidida, tão comprometida e tão certa.

Me arrisco a dizer que estou mais lúcida, mais segura e o melhor: resgatando o que há de melhor em mim.

Descobertas

Em uma certa altura da vida a gente descobre que as coisas mais óbvias doem mais do que as que a gente nem esperava. Nenhuma felicidade pode ser completa. Essa é uma das verdades mais óbvias e doloridas. E o que dizer quando abrimos mão de uma felicidade que nos completa em nome da felicidade de uma outra pessoa ?
Para quem acha que essa é uma escolha de quem tem medo de ser feliz, acredite, não é. É o significado do amor mais puro.

Abrir mão da felicidade dói, claro que dói. Dói por saber que a dor não passa. Aliás, dói saber que nenhuma dor passa. Certas dores só adormecem. Há dores que caem no sono eterno. Em compensação, outras despertam tão facilmente que dá medo de ligar a luz. A pior, sem dúvida, é viver aquela que tem insônia, que não descansa e nem prega o olho. É a dor constante, aquela que potencializa a nossa impotência e é tão irreversível quanto a nossa incapacidade para lidar.

A esta altura da vida descobri que não existem músicas para ninar dores eternamente constantes.

Paradoxo

Quando eu quis o amor ele não apareceu, aliás me ignorou com um silêncio ensurdecedor. Aí eu achei que havia crescido, que era dona das rédeas, que tinha o controle absoluto e poderia traçar o que eu quisesse. Nada disso. Obviamente, para pensar assim, eu não tinha crescido porcaria nenhuma. A vida foi lá e me deu uma chacoalhada, um susto e uma segunda chance. Sabe lá o por quê de ter uma segunda chance, porém eu tive.

Desapegada e completamente decidida eu não mais esperar o amor ou ir em busca de. Planejei, mas nada do que eu havia imaginado aconteceu do jeito que eu havia desejado e desenhado. Aconteceu de uma forma bem melhor. Terceira chance? Sei lá. Abracei as incertezas e segui o que não tracei.

De lá pra cá devo ter tido 759 milhões de novas chances e muitas agarrei, aproveitei, me esbaldei e lambi os beiços. Quebrei a cara também. O que tracei, não aconteceu e, quando não vi o lado bom, me frustrei.

Atualmente, uma das questões que tento lidar é tão confusa e, ao mesmo tempo, tão clara que, sinceramente, tenho preguiça de entender. A questão me deixa confusa, me deixa feliz, me deixa extremamente angustiada e aliviada. Bancar a adolescente noiada e rebelde não dá, porque na altura do campeonato vai parecer no mínimo patético. Além do mais, não sou adolescente. É, é patético, não disse? Mas eu também não consigo bancar a cabeça aberta e suuuuuper entender. O paradoxo me dá muita preguiça.

Eu sou um paradoxo, mas quem não é?

A Guna

Ela sempre foi muito disciplinada, estudiosa, caprichosa e responsável. Minha mãe não poderia ter menos orgulho de uma filha como ela, afinal espera-se da filha mais velha, em geral ou na teoria, que ela seja o exemplo para os mais novos. A Dri sempre foi.

Seus cadernos vinham decorados com sua letra grande, redonda e cheia de caprichos para ninguém botar defeito. Estudiosa como ela, eu não conheci ninguém. Nas vésperas das provas deixava todo mundo lá de casa louco. Acendíamos velas, rezávamos, pedíamos a calma para ela vencer o desespero e fazer a prova tranqüila, já que as apostilas ficavam manchadas pelas suas lágrimas. Quando ela chorava a gente tinha a impressão que ela faria a pior das provas e, consequentemente, teria um dos piores resultados. Mas no final tudo dava certo e ela sempre tirava notas máximas. Tínhamos vontade e esganá-la e não parabenizá-la. Era sempre assim. Prova era sinônimo de muito estudo, choro e velas. E notas altas.

Por ser a mais velha, a Guna sempre me ajudou em matérias que eu “perigava” e me ajudava nas lições de inglês, já que tinha anos de estudo na minha frente.

Foi ela quem me ensinou a ver as horas. Isso porque eu precisava falar as horas em inglês, mas para isso, era – obviamente – necessário saber responder a tão medonha pergunta: que horas são? Ela, então, pegou uma tampa de uma caixa de sapato, desenhou os números em um círculo e inseriu dois ponteiros móveis. Pacientemente me explicou que o menor apontava as horas e o menor os minutos. Foi bem difícil pra mim, porque eu ainda não havia tido aulas de tabuadas, portanto como saber o tal do 5,10, 15, 20…? Imagina a paciência que a criatura teve que ter comigo. Primeiro me ensinou a tabuada, depois as horas e depois como dizer isso tudo em inglês. Claro que eu queria morrer e achava que o mais fácil seria mesmo andar sem relógio.

Como qualquer dupla e irmãs que se prezem, brigávamos por motivos cretinos e banais. Não me lembro no momento de nenhum específico, mas tínhamos arranca-rabos bem dignos. Daqueles de gritar, de puxar cabelo, de fechar a cara, de jogar coisas uma da outra no chão etc, etc, etc, mas nada fora do comum. A única coisa que lembro na verdade era que eu me vingava, durante as brigas, dando muito soco no urso dela, o Blau Blau, aquela coisa fedida que ela tinha, hahaha.

A gente sempre dividiu o quarto e só deixamos de fazer isso quando ela saiu de casa. Óbvio que a minha bagunça a deixava louca e que eu queria matá-la quando ela ligava a luz na minha cara para escolher a roupa para trabalhar. Mas quando eu entrei na fase do medo, lá pelos meus 10/11 anos, era ela quem me acompanhava até o banheiro, ia comigo à cozinha buscar água e me deixava juntar as nossas camas para eu poder dormir grudada nela.

E apesar de ser esse poço de disciplina, quase militar, a Dri sempre foi muito, mas muito divertida. Inventava brincadeiras tão sem nexo que é impossível não registrar. Um exemplo: sanduíche de gente. A maluca inventou que eu, meu irmão e os meus primos Luiz Carlos e Ana Luiza deveríamos deitar em um colchonete para ela nos transformar em um saboroso lanche. A gente entrava na dela e obedecíamos. Deitávamos de bruços no meio do colchonete e ela dobrava a parte que sobrava sobre nós, que ficávamos apenas com os pés e as cabeças para fora. Como era o preparo do lanchinho? Ela pulava em cima da gente, óbvio! Era a maior festa, porque ela dizia, entre gargalhadas: essa salsicha aqui tá estranha e precisa ser triturada mais um pouquinho! Ela tinha umas ideias bem questionáveis como eu já disse aqui, mas isso não vem ao caso porque hoje é um dia bem especial.

Também foi ideia dela o diálogo do idioma que não existe. E pensa que éramos crianças? Nã na ni na nã. Tínhamos uns 20 e poucos anos e do nada ela perguntava: verishinakoviski? E eu respondia: sim, kansblesgastam. E ríamos até ficar com dor no estômago, chorar de rir e quase fazer xixi nas calças. É ainda muito comum falarmos assim, rá!

Ela sempre amou sorvete de flocos, bolo de nozes e das músicas do Lulu Santos. Lembro que ela montou uma pasta de dar inveja a qualquer um com todas as matérias, notas e fotos publicadas sobre o último romântico.

Foi sempre delicada, chorona e…fresca. Nossa, ela nunca tirava o lixo e jamais ia à padaria comprar pão e eite. Guna chata! E sempre foi nóia. Ela demorava horas para se arrumar e perguntava horas se estava bom, se o cabelo estava legal, se o sapato combinava, se isso, se aquilo.

Chata, nóia, fresquinha, patricinha e perfeitinha, a Guna é a melhor irmã do mundo. Amorosa, carinhosa, engraçada, divertida e generosa. Foi ela quem pagou a mensalidade do meu 3 colegial inteirinho só para eu concluir os estudos em um bom colégio e ao lado das minhas amigas. Foi com ela que eu me esbaldei na Disney…Ela foi uma das que não arredou o pé quando eu operei e precisei de ajuda no hospital, no banho, no cuidado com o curativo. Sempre muito maezona, cuidou de mim como tal.

E como tal, ela é a mãe mais engraçada que tem nessa vida. Ela imita o barulho de um liquidificador de uma forma tão engraçada que eu me pego pensando: cara, da onde é que isso aí saiu? Essa pessoa é uma executiva super respeitada de uma das multinacionais mais importantes do país. Sim, eu juro por Deus que essa executiva aí brinca com suas filhas fazendo uns grunhidos super esquisitos(!).

É essa maluca aí que também me escreve cartinhas, cartões e e-mails iniciando a mensagem exatamente assim: querida Hermãn…

Ah e ela é cheia das surpresas. Duas semanas antes de eu me casar, o Frango me ligou insistindo muito para eu passar em nosso apartamento. Muito contrariada fui até lá, no meio da semana. O motivo? Coisas que só uma Guna faz por você. Ao abrir a porta daquele apartamento vazio e tomado pelo eco, me deparei com compras de supermercado feitas por ela. Era produto que não acabava mais no meio da sala. A geladeira? Cheia de guloseimas deliciosas, como o danete edição limitada sabor Sensação, o meu preferido. Tinha suco, manteiga, requeijão, ovos… Eu simplesmente não acreditava naquilo. Chorei litros abraçada ao confort, ao papel higiênico, aos produtos de limpeza, aos deliciosos biscoitos, ao macarrão, ao molho…

A Guna é assim. Não há adjetivos, só sei que Deus foi bom em colocar em meu caminho uma hermãn como ela.

Guna-lagartixa-branca, te amo mais que tudo e você sabe disso. Obrigada pelas horas dedicadas a mim, pelas horas ensinadas e por todas as horas presente ao meu lado e no meu coração.
Feliz aniversário, minha linda.
Bjs.,


Guna lagartixa branca ao lado de suas melhores criações

Carimbada

Bati o carro. Pura barbeiragem, daquelas que o inconformismo se torna infinitamente maior que o prejuízo financeiro. A cagada foi tamanha que não tem como não se sentir uma loser-cabeçuda de marca maior.

Sem contar a vergonha. Dava para ver os balões dos pensamentos saltando da cabeça de cada testemunha: “tinha que ser mulher!”; “olha que moça mais sem noção!”; “eh, dona Maria, vai pilotar fogão, porque carro não é pro seu bico!”, dentre outras que sequer quero registrar aqui.

Encostei o carro para falar com o taxista, minha vítima. O nome dele é Zezão, não por acaso, pois o cara, de tão grande, não parava de sair do carro. Era Zezão que não acabava mais. Dois metros de altura, fácil, fácil. Me olhou do alto de seu gigantismo com cara de pouquíssimos amigos. Nem preciso dizer que pedi perdão por todos os males que causei nessa e na minha vida passada. Mas quando vi o carro dele, tive vontade de dizer: amigão, não foi nada. Tá me ouvindo aí de cima, oh grandão? Não foi na – da! Nadica de nada. Passar bem e esqueça o meu pedido de desculpas.

Eu devo desculpas mesmo ao meu carro, esse sim, com o capô semi-arrebentado e pintura do pára-choque danificada. Ahá, essa é a questão. A minha pintura estava carimbada no pára-choque do carro dele. Coisa boba, mas não para o Zezão, que deve passar paninho a toda hora para ilustrar o seu carro. Vontade de sentar cinco dedos na cara do cidadão!

Tá, tá e tá. A colisão rolou por minha causa, minha culpa, toda minha e somente minha culpa. Mas convenhamos, Zezão, a Teodoro Sampaio está toda parada porque o senhor tá com essa cara de merda olhando as minúsculas pintinhas carimbadas em seu carro. Tá, já sei, pintinhas carimbadas por conta do meu descuido, todo e somente meu descuido. Anota a minha placa aí, o meu celular e me liga depois. Pode ser?

Não, não pode. Não pode porque o Zezão resolveu abrir o porta mala. Santo Deus, será que ele vai pegar um taco para resolver a questão? Nem precisa, viu meu querido. Se vc fechar a mão e fizer cabóing na minha cabeça, eu viro, no mesmo instante, tampinha de garrafa amassada e grudada no asfalto.

E lá vamos nós. Zezão resolve abrir e fechar o porta mala para ver se está tudo certo. Pediu também para eu acender os faróis do meu carro para iluminar o dele. Argh, sacoooooo! Banquei a desconfiada também e comecei a tirar fotos do carro dele. Vai saber se ele não vai aparecer com o seu Fiat Idea transformado em Fiat 147 da noite para o dia.

O impacto foi relativamente significativo, afinal ele parou e eu não. O barulho forte e seco da batida não sai da minha cabeça que, aliás, beijou levemente o volante. Não deixar o cinto um pouco folgado poderia ter evitado isso, dona Paola Del Monaco. Fica a dica, cretina.

Fui pra casa me xingando por 10 km. Tonta! Tonta! Tonta! Presta mais atenção, Paola Del Monaco! Dá para viajar um pouco menos na maionese, Paola Del Monaco? Vai pilotar fogão, vai Paola Del Monaco! O trânsito, a sua testa, o seu carro e o seu bolso agradecem.

Passei a reparar nesta merda quando me vi fragilzinha e com vontade de chorar sem motivo algum. Antes os únicos sinais eram apenas a enxaqueca insuportável e o formato do meu cabelo. Sim, o meu cabelo fica uma verdadeira porcaria na semana da TPM. A franja fica toda estrambelhada, fora do lugar, seca, mastigada, sem vida, um verdadeiro horror. Uma falta de respeito.

Anos depois passei a choramingar sem motivo e para não bancar a ridícula segurava o choro, o que resultava numa bola de basquete no meio do peito. Placar: cabelo bosta + enxaqueca + angústia profunda.

De uns tempos pra cá o quadro mudou: mensalmente me sinto uma psicopata-homicida. Sinto ganas em pegar a cabeça de um e bater na pia ininterruptamente, de preferência alternando testa, nariz e dentes – mirando-os na quina da pedra, óbvio.

E é exatamente assim que me sinto essa semana. Com enxaqueca, irritada, com vontade de cuspir em todo mundo e com a porra da franja abalando a minha dignidade. E é impressionante como tudo isso ganha uma proporção descomunal quando alguém te dá motivo. Se o mundo tivesse uma ideia, uma mísera ideia, um cacete de uma ideia do quanto a dona Del Monaco aqui está desequilibrada especificamente nesta semana, o mundo seria um pouco mais cuidadoso. Mas não. Não, o mundo é bem cruel. TAH CERTO, MUNDO, TAH CERTO!!!!

Recado de uma mulher na TPM e ferozmente ciumenta: a tua sorte é que a minha TPM acaba amanhã, porque é enorme a vontade que tenho de pegar a sua cabeça e bater na pia VÁRIAS VEZES até a vontade passar ou a força acabar. Para conhecimento: começo a musculação amanhã mesmo. Só para garantir.

Cú do Padre

Oi,
Eu abandonei esse blog por uma série de razões, mas, sinceramente e definitivamente, não será agora que irei enumerá-las ou justificá-las. O fato é que eu jamais imaginei que você seria a responsável por esta volta. Logo você que sempre, sempre e sempre foi fã – muito da suspeita – dos meus textos. Lembra a redação sobre o elefante? haha

Que coisa mais maluca, minha linda, eu estar aqui graças a você.

Em meio a um milhão de coisas, eu não consegui parar para organizar os meus pensamentos. Estou há dois dias feliz, triste, confusa e sem saber o que fazer. Terei que saber o que fazer a partir de amanhã.
Eu fiquei feliz por você se sentir tão à vontade em se abrir comigo. Juro, eu não esperava e para não te expor, prefiro te explicar pessoalmente o por quê. Também estou feliz por saber que você conseguiu ser verdadeira com você mesma, respeitar o que realmente sente e bancar uma decisão tão difícil. Difícil, porque muitas vezes fazer o que se tem vontade significa, sim, machucar alguém.

O fato não é nenhuma surpresa para mim, mas a sua atitude, sim. Foi corajosa, verdadeira e nem um pouco precipitada. Mas se você foi tão verdadeira com você e com ele, por que não com os outros? O mais difícil você já fez. Medo? Que medo bobo você tem. Sabia que destoa dessa mulher guerreira, que batalhou e fez de um tudo para criar os seus filhos da maneira mais incrível? Será que você tem a real noção do quanto eles te admiram, são gratos e te apoiam? E pode apostar: não irão apenas apoia-la. Ele também será amparado e paparicado

Que bobagem achar que um vai tomar partido do outro. São grandinhos e talvez riam da situação…por um lado, confesso, eu soube ver o lado engraçado da coisa.

….tomara que eu consiga encorajá-la a fazer isso. Mas independente do que acontecer, conte comigo, com o meu colo, com o meu apoio. Aliás, conte com um porre bancado por mim. Há um lugar com umas batidinhas muito gostosas, a gente vai se esbaldar como fizemos no final do ano! O lugar é um pouco feio…na verdade você vai achar beemmmm horrendo. Mas um dos segredos é exatamente esse.
Cú do padre, esse é o nome do barzinho, localizado atrás de onde? De uma igreja, óbvio. Rá, gostou, né? Sabia que eles servem batidas apenas de vinho e vodka? Já se animou com a do vinho, né? Eu também!!!

Saindo de lá, a gente reza uns pai-nossos e umas ave-marias só pra garantir um eventual perdão do hómi lá de cima.

Te amo demais.

Djalma Jorge Show

 Quem nunca quis voltar no tempo? Eu lembro que uma das minhas brincadeiras preferidas era me imaginar dona de uma máquina do tempo. Quando assisti ao “de volta para o futuro” enlouqueci de vez e aí, além de ter uma máquina do tempo, eu queria fazer auto escola. Com 10 anos. O objetivo era voar para o futuro, saber qual profissão eu tinha escolhido, checar se eu tinha casado e pegar os números da loto para os meus pais serem ricos e me mandarem para a Disney.

Aos 15 eu não queria saber do futuro e sim voltar ao passado para entregar o gabarito das provas. Principalmente os de química, física e matemática.

Aos 24 deu vontade de voltar no tempo para rever um rapaz por quem eu tinha me apaixonado perdidamente. Queria convencê-lo que ele faria um ótimo negócio apostando em mim. Eu já tinha carteira de motorista, mas não a máquina do tempo. Aí a vida se encarregou pelo tempo e pelo reencontro, que foi tarde demais.

Hoje, aos 35, eu ia querer voltar para curtir os bailinhos na casa do William; para ouvir novamente Djalma Jorge Show, programa da Joven Pan transmitido aos sábados; para prometer mundos e fundos para a minha mãe comprar os ingressos do show do Legião Urbana (que eu não me conformo de não ter ido); para obter os números da mega sena e poder viajar pelo mundo inteiro.

O bom é que eu não preciso voltar no tempo para dizer ao tal rapaz que ele fez um péssimo negócio em não ter apostado em mim. Isso a vida e o tempo já se encarregaram de fazer por mim. E eu sou grata pela escolha dele, caso contrário eu não seria nada do que sou e não estaria vivendo nem um décimo do que vivo hoje.

Segredo

Eu quero ser o segredo, o seu melhor segredo, porque segredo se guarda pra sempre como  um tesouro mais que valioso, porque é baseado na confiança, um dos melhores valores que há nessa vida.

Quero ser o seu segredo, porque um segredo se conta apenas a pessoas que a gente ama. Ao confidenciar um segredo percebe-se troca, generosidade, luminosidade, proximidade, amor.

Eu quero ser o seu segredo porque segredos nunca são pequenos, mesquinhos ou sem importância. Ter um segredo é cuidar para que não haja quebra, vulnerabilidade nem fragilidade. Segredos não podem ficar à mercê do vento, espalhados por aí, não pode sofrer abalos ou ruídos.  

Quero ser seu segredo porque para revelar um segredo é preciso grandeza e coragem para verbalizá-lo e para vivê-lo.

Quero ser o seu segredo mais secreto porque poucos têm a permissão de sabê-lo, de sê-lo ou de fazer parte. Segredos sempre estão envolvidos por um cuidado especial e sempre farão parte de algo muito, muito particular, perene, único, quase intocável.

Confiar um segredo é criar laços verdadeiros, é dividir o valioso à pessoa mais valiosa, é se aliviar de algo que precisa ser verbalizado, é se assumir, é ficar nu sem medo, é deixar o outro fazer parte de verdade, é se expor tendo a certeza de que a reação será o afeto.

Eu quero ser o seu segredo. O melhor deles.

Querer

Eu quero ir ao cinema , ficar de mãos dadas com vc e encostar a minha cabeça no seu ombro. Quero roubar um pouco da sua pipoca, roubar uma gargalhada sua, roubar um beijo seu e o seu coração, já que vc roubou o meu.

Quero dançar várias músicas abraçada a vc. Se nenhuma tocar, podemos fingir que estamos ouvindo. Eu quero dormir e acordar ao seu lado, atravessar uma madrugada conversando com vc sobre tudo e sobre nada, perder tempo com vc, parar as horas, enganar o relógio e esquecer que ponteiros existem.  

Quero delirar ao seu lado, caçar borboletas, tocar campainha e sair correndo, gritar no trem fantasma, ensaboar o chão para escorregar de propósito, ter um ataque de riso, perder o fôlego e os sentidos.  Quero conhecer a sua história de trás pra frente, saber de suas férias na casa da avó, dos tombos e das molecagens e dos lugares que visitamos no mesmo dia, na mesma hora sem nos dar conta de que ali o destino brincava com os nossos caminhos.

Quero andar ao seu lado num parque com os pés descalços, tomar sorvete em um dia quente e chocolate quente em dias frios. Quero ver o pôr do sol, a lua cheia e as cores do outono. Quero brincar na chuva e fazer manha se eu me resfriar, ler ao seu lado, pegar uma estrada com você, subir em algum lugar alto, sentir o vento de braços abertos e ouvir o eco da montanha.

Quero te surpreender, marcar um encontro e te ver por acaso. Quero ganhar um carinho, fazer cafuné e relaxar no seu abraço. Antes de botar os meus olhos em você, quero colocar um vestido bonito, uma fita graciosa na cabeça e enfeitar o meu rosto com um sorriso.

Quero te contar segredos e histórias, quero voar com você, mergulhar, planejar, construir, sonhar e  desenhar o que vier à cabeça. Quero ser a sua eterna namorada, a sua melhor amiga, a sua confidente, a sua amante, a sua mulher e a sua poesia.

Outro dia ela se pressionou a responder o que faria se a vida os colocasse frente a frente.  Arriscou um palpite, mas ela mesma não se convenceu. Faz tanto tempo e ao mesmo tempo ainda parece ser recente. Já não sabe mais e tampouco quer pensar no assunto tempo. Já não sabe mais como seria sua reação se o encontrasse – como se reações pudessem ser planejadas. Já não sabe mais o que de fato sentiria.

Talvez seja melhor assim. Seguir sem saber e sem mais se perguntar. Melhor ainda, seguir sem esperar. Sente-se livre e não mais prisioneira de uma história que precisa ficar em seu lugar: numa caixa bonita e especial, assim como essa  história construída, escrita, vivida e finalizada.

Caixa com um laço que se desfez e que precisou ser lacrada, dessa vez de uma outra forma. O laço foi desfeito, não num desamarrar comum, mas como se a fita fosse queimada em sua mão e a queimasse, deixando uma cicatriz. Aquela fita desamarrada poderia ser amarrada em laço de novo, mas ela não existe, foi queimada. A fita jamais poderá ser a mesma, apenas para aquela garota, mas a garota há tempos deixou de ser aquela garota. Essa mulher que hoje segue não mais prisioneira traz a essência daquela garota, sim, traz ainda aquela graciosidade, o jeito feliz de viver e de sentir verdadeiramente, se permitindo sempre. Mas hoje ela também carrega uma cicatriz. Cicatriz de uma ferida curada pelas surpresas generosas dessa vida.

A caixa está lacrada, é verdade, mas não impossível de se abrir. Mas não há razão para querer mexer. Certas coisas devem ser simplesmente  guardadas. Acredito que assim, o tesouro não perde o valor nem o seu encanto. Talvez o melhor mesmo seja deixá-la fechada, para não arriscar e para que a tal não se transforme na temida caixa de Pandora.

Clarice Lispector, ao entrevistar Rubem Braga, escreveu: “Há mil Rubens dentro de Rubem Braga, assim como há mil clarices em mim”. Eu sou mil Paolas porque há milhares de mim dentro de mim. Muitos acham que sou divertida, outros acham sou formal. Há quem ache que sou fascinante e charmosa. Alguns me acham sofisticada, outros dizem que sou alternativa. Já ouvi que tenho cara de rica, jeito de quem mora em um endereço que comece com Alameda. Há quem me admire e/ou ache incrível alguma história minha.

Na maioria das vezes não me aborreço com tais achismos. Só não gosto da expectativa que criam a partir de uma única imagem que fazem de mim. Para quem me acha muito divertida, aqui vai o meu recado: nem sempre sou divertida, nem sempre estou a fim de contar histórias incrivelmente engraçadas. Portanto, não se decepcione. Melhor, não me amole, porque também tenho o meu lado azedo. E para quem me acha pavio curto, eu não sou só isso. Há outras Paolas legais, que seguram a onda ou que aprenderam a contar até 75 para se calar. Alameda o que? Ha ha ha pra você! Não, estou um pouquinho longe desse endereço aí, mas o meu traz a palavra alegre e o edifício foi batizado por algo felicitá. Não há muito espaço, mas convivo bem aqui. Há plantas na sacada e também casinhas de passarinhos penduradas na parede. Rica? Estou longíssimo desse conforto financeiro, mas tenho consciência de que dinheiro algum poderia comprar os meus tesouros. Da mesma forma que, se eu os perder, não há terras, pessoas influentes ou poder no mundo que os recupere.

Me aborreço quando ficam incrédulas ao me ouvir dizendo: não, não sei. Não, não conheço. Poxa, me desculpe se isso te faz pensar que sou burra ou se isso me diminui. Ao invés de me humilhar, essas pessoas poderiam apenas compartilhar tais conhecimentos, que podem ou não me interessar. Ou melhor, poderiam respeitar, sem me julgar. Leio bastante livro, clássicos e também de autores respeitados. Amo crônicas, amo as de Clarice, as de Rubem Braga, as de Xico Sá, as de Martha Medeiros, as de Mario Prata e as de tantos outros. “A viajante”, de Rubem Braga, é uma das melhores crônicas em minha opinião. Mas porque não posso dizer que gostei também do livro sobre a Beck Bloom? Ou por que não posso dizer que adoro assistir “mensagem pra você”, com o Tom Hanks? Quando digo que não consigo ouvir Chico Buarque, sou rechaçada. ALGUÉM QUER OUVIR A RAZÃO, POR FAVOR? Mas amo suas letras e suas canções quando são interpretadas por Zizi Possi, por exemplo. E no momento estou lendo o seu Budapeste, que me prende de um jeito bom e não como o seu “estorvo”. Aquele eu li e troquei no sebo, de tão pesado. Decepcionados, não é?

Sou também essa Paola que não consegue terminar esse texto, que parece ter perdido o fio da meada e que não quer deixar como parágrafo final esse sobre o que a aborrece. Vai parecer um recado, vai parecer que estou chateada com determinada pessoa e não é nada disso. É só um texto de uma dessas mil Paolas que sou.

2020

Alguém disse que me visitou no futuro. Não pôde ver muito, mas me viu rindo das bobagens típicas de uma certa atmosfera que move e revoluciona os meus dias atuais. Fiquei curiosa e feliz. Embora a pessoa não tenha visto tanto, eu gostei MUITO de saber que em 2020 ainda existe a tal atmosfera .

Quero e torço muito para que a Paola Del Monaco que me tornarei daqui a dez anos esteja se sentindo tão completa como a de hoje, mas bem menos ansiosa. Bem menos.

Tomara que ela continue se permitindo a viver sem se enganar e que ela não esqueça de sua essência, dos seus sonhos e de alguns momentos que a despertaram. Espero que ela continue absorvendo elementos fundamentais para se transformar em novas e em outras Paolas. Que ela continue rodeada por pessoas que tenham a ver com ela e que também não tenham nada a ver. Espero que ela continue quebrando algumas regras tão hipócritas e que distorça valores, conceitos e lições que possam impedí-la de fazer algo. Gostaria muito que ela falasse italiano fluentemente e desse aulas. Para crianças. Torço para que ela continue se divertindo ao lado do Frango, seja por causa de suas brincadeiras (FBI, rolinho, qual é a música, histórias surreais antes de dormir…) seja por causa de novas bobagens que arrancam gargalhadas e dão mais leveza a essa relação tão singular. Espero que eles tenham tido um filho ou uma filha para com ele/ela ensinar e, principalmente, aprender. Se por um acaso ela estiver triste, espero que ela feche os olhos e visite 2010. Tenho certeza de que ela irá sorrir e irá entender porque é completamente feliz. Há outras épocas para visitar e sei que ela terá discernimento para reviver o que realmente vale a pena.

Uma pergunta para vc que me visitou: eu moro numa casinha simpática habitada também por um cachorro grande e bobo?

Resposta à razão

Há um turbilhão de coisas acontecendo na minha vida. Eu não sei se me sinto em uma montanha russa ou em um trem fantasma. Creio que seja a junção dos dois: um trem fantasma com direito a quedas de 90 graus no escuro, dificultando a vista do meu olhar curioso e desesperador.

Tenho vivido o que desafia certos sentidos dessa vida sem dar a mínima à razão, que saboto e ignoro friamente. Não que eu esteja me isentando das responsabilidades. Estou apenas me permitindo.  E como todo ser humano que se preze, aceito transitar por certas trilhas percorrendo uma grande região pantanosa que assusta e aflige o meu lado racional. O saldo é o medo, que tira a poesia das cores que o meu coração insiste em usar em suas telas grandes e vivas – e que sua inocência tola pede para exibir. O que eu gostaria que acontecesse simplesmente não vira e o que eu peço com toda a força do meu coração para não acontecer tem uma chance de acontecer. É bem verdade que as chances são mínimas e quase nulas, mas existem. Aí o medo figura como protagonista da história mais tenebrosa que eu sempre quis evitar em viver.

O “e se” se faz presente como se fosse aqueles personagens coadjuvantes precisos e certeiros. Não gosto de incertezas e de certas surpresas que a vida reserva. Não gosto dos “e se” quando me dou conta do pior cenário. Não gosto de me sentir angustiada e cercada por insegurança e ameaças. Mas é assim que me sinto quando a razão toma conta dos meus pensamentos.

Só há três maneiras de me livrar disso tudo: acreditando que o melhor irá acontecer, esperar o tempo passar e ignorar a razão dando mais voz ao coração. Como sou muito impaciente para esperar e muito pessimista para acreditar, vou dar ouvidos ao meu coração.  Ele me arranca do óbvio ao meu redor, me deixa em estado de graça e abre as janelas da minha alma.

Vc tem de estar na vida também para correr risco. Faz parte do saudável desapego consigo mesmo
– Arnaldo Antunes.  Vc diz isso, querido Arnaldo, porque não tem a menor ideia do risco que eu corro.

Tanta gente já passou na minha vida, em tempos diferentes, que muitas delas só ficaram nas lembranças. Os motivos vão desde mudança de bairro à mudança de vida. Pensei nas minhas amigas de colégio, nos amigos da rua, na turma da praia, nos professores que tive, nos colegas da faculdade e nos das agências que trabalhei. E pensei também naqueles que fui perdidamente apaixonada.

Outro dia lembrei dos meninos que chegaram a declarar a paixão que sentiam por mim. Lembrei do Marcinho, do Alex, do Stones, do William e do Tchello. O Marcinho não foi direto, mas falou para o meu irmão, o Alex espalhou para a turma inteira que gostava de mim e depois escreveu um bilhete me pedindo em namoro. O Stones fez poesia, desenhos e o William chegou na chincha. Desses eu gostei do Marcinho e do Tchello, mas só fiquei com o Tchello porque eu e o Marcio tínhamos no máximo dez anos quando “nos apaixonamos” e naquela época os tempos eram beeeeem diferentes. Já o Tchello apareceu quando eu tinha uns 16 anos. Não deu muito certo porque nossas casas ficavam a 20 quilômetros de distância uma da outra e ele, mesmo sendo maior, não tinha carro. Uma pena, porque ele era todo romântico, cantava um monte de música bonita, lia muitos livros e era todo intelectual. Além disso, era “um homem” de 21 anos, com seus 1.80 de altura, tinha barba cerrada, olhos claros e…nossa, era um partidão! Mas vamos combinar que não dá para atravessar a cidade todo o final de semana e ficar só nos beijos. O mocinho não teve a menor paciência.

Um outro que despertou em mim uma paixão mais do que louca foi um moço alto, dessa vez 12 anos mais velho do que eu e que era muito mais do que romântico. Ele era poeta. O problema não foi só a diferença de idade (ele com 31 e eu com 19) nem a ausência de um automóvel. Ele tinha carro, mas morava a mais de 6 mil quilômetros de distância da minha casa. Foi o meu primeiro amor e foi quem despertou muito do que sou ainda. Talvez seja por essa razão que a gente nunca esquece o primeiro amor.

Mas houve outros amores também inesquecíveis. Teve um que eu fui capaz de sentir muito e tanto que eu não sabia o que fazer com. Ele era bem presente e mais tarde passou a me faltar por inteiro. Mesmo assim me preencheu com novos significados.

O que ficou desses amores e dessas paixões foram lembranças tão boas que por esta razão eu gosto de relembrá-las. E o que me deixa realmente feliz é saber que isso tudo também fez parte da minha realidade.  

Hoje o amor responsável por boa parte da minha alegria não é poeta, não é romântico e não é tão mais velho do que eu. Mas é tão único e tão especial que desejo viver até ficarmos bem velhinhos. Ele é o Frango, o marido mais engraçado do mundo, que faz comidinhas deliciosas pra mim, que deixa mais da metade da cama pra mim, que faz da minha rotina a melhor das melhores, que dança comigo na garagem, que imita buzina de caminhão quando passa nos túneis das estradas…enfim, é o Frango. Quem conhece sabe sobre o que e de quem eu estou falando.

Ska

De uns tempos pra cá, uma única palavra passou a te definir. Roteiro. Ela não sabe ao certo se é você ou se é a história, mas ocorre que o fato se resumiu a um roteiro para nenhum Almodóvar botar defeito. Ela se arriscaria até mesmo em dizer que tal roteiro transita quase lá com as histórias surreais de Tim Burton.

O roteiro, de tão aprisionado que está em toda aquela desordem subversiva, não saiu do papel. Aliás, nunca deveria ter saído do papel. Ela fuça nos papéis amarelados pelo tempo, lê e relê diálogos, descobertas e histórias que desafiam a compreensão. A leveza estava na poesia provocada pelo destino, pelas circunstâncias e pelos desdobramentos tão surpreendentes. Mas o que se vê naquele roteiro todo poético é também desespero, incertezas, questionamentos, medo, inconformismo.

Virou quase uma novela mexicana, de tão chato que o roteiro ficou. Chato porque não se desenrolava e porque começava a se tornar um filme já manjado, previsível e, pior, sem final feliz. Aí virou melodrama, pieguice das bravas, porque se falava só na saudade que batia, no silêncio que gritava, no desfecho miserável, no rasgo da alma, na ausência.  

Acredite, ela não gosta de rotulá-lo, até porque ela sabe que acaba se rotulando também. Ela entende também o que aconteceu, pode apostar. Aliás, ela teve uma ajuda para analisar as hipóteses do roteiro. A pessoa tinha razão. O jeito era mesmo olhar o lado mais óbvio, aquele que se perde na hora do desespero e da cegueira.

Nada fácil. É um exercício para não se trair, para não se culpar e para não perder a essência daquele roteiro que era muito mais do que poesia. Baseado em fatos reais, o roteiro é uma história de amor. Sem final feliz, mas é de amor.

E o sêo Herbert Viana tinha toda a razão…

Ska

A vida não é filme e você não entendeu
Ninguém foi ao seu quarto quando escureceu
Sabendo o que passava no seu coração
Se o que você fazia era certo ou não
E a mocinha se perdeu olhando o sol se por
Que final romântico, morrer de amor
Relembrando na janela tudo que viveu
Fingindo não ver os erros que cometeu

E assim
Tanto faz
Se o herói não aparecer
E daí
Nada mais

Ele

Pela primeira vez neste blog,  estou postando um texto feito a quatro mãos, escrito por mim e pelo Frango.  Não poderia ser diferente por uma única razão. E essa razão tem nome: Johnny.

Não dá para descrever o nosso estado. É caótico. Mais do que isso. É profundamente doloroso. Você, boca rosa, foi mais do que especial. Foi diferente. Em tudo.

O primeiro encontro que tivemos já denunciava que você era de uma espécie rara e, pra sermos bem sinceros, tu era muito do tonto. Incrivelmente lindo e tonto. Quando a gente chegou, a fim de saber qual daquela matilha iria nos escolher, você foi para uma direção completamente contrária. Todos latiram felizes para nós e você latiu para o vento, para o nada, e foi aí que você nos ganhou.

Como já contado aqui, no trajeto até a nossa casa, você – de tão pequeno – se ajeitou no meio das minhas pernas e, em menos de um mês, já me derrubava como se eu fosse um pino de boliche.

Tu era bobo de tudo, sem noção. Mas quer saber? Foi vc quem nos fez de bobo. Com o seu jeito docemente safado conseguia tudo o que queria. Ou quase tudo.  Tu era chato também. Pra ca-ce-te. Maleducado que só, cheio das malandragens, desobediente mesmo. Riscou o carro de todo mundo, sujou roupa,  acabou com a visita dos pássaros em casa e quebrou muita planta a fim de exorcizar lagartixas. Por que você as odiava tanto? De tanto cavar o jardim,  o sêo Filberto acreditava piamente que vc um dia iria achar petróleo ou traria um chinês lá pra casa.

 A gente ainda é capaz de vê-lo  sentado na entrada de casa, vidrado na mesa do almoço de domingo e babando. Babava a ponto de acumular uma poça lá. Aos sábados, você já sabia que a gente comia frango assado. Seu petulante! E não sossegava enquanto não ganhava a sua parte. A grande verdade é que você comia de tudo: ração, carne, comida, pão, goiaba azeda, tatu bola, planta, terra, sapato, bexiga e alguns objetos não-identificados.  Ah, e vc adorava garrafas pet de dois litros vazias. Não era o seu prato preferido, mas sim o seu brinquedo predileto, destroçando- a em segundos.

De um ano pra cá, deu pra ter frescura exagerando nas chantagens emocionais. Quando s~eo Filiberto e dona Idalina vinham para SP e te deixava por um dia e meio, você não se despedia. Amarrava a cara e só faltava mandá-los a merda. Ficava todo emburrado. Fazia greve de fome e nem água bebia. MI-MA-DO!

Outra frescura adquirida nos últimos meses foi a temperatura da água servida a você: gelada. Só podia ser água estupidamente gelada. Você conhecia a sua garrafa e sabia que aquela lá não era para destroçar. Seu sem vergonha!

 As meninas faziam de você o que quisessem: cavalo, cachorro, joão-bobo. E a gente te amassava, puxava as suas pelancas, esticava a sua boca, fazia cócegas no seu joelho, cafuné e te enchia de beijos quando você encostava a sua cabeça em nossas pernas. Era gostoso dar tapa na sua bunda também. Você achava graça.  

Nós poderíamos escrever um best seller sobre você e, principalmente, sobre tudo aquilo que você provocou. Mas o fato, Johnny, é que nesse exato momento estamos em um estado caótico tamanha dor que sentimos só de pensar que hoje foi o seu último dia. A gente queria mais. Bem mais.

Obrigada cabeção. Você, de alguma forma, continua sendo parte da nossa história. Uma história linda, surreal e absurdamente divertida.

15/01/2010 -A última foto do Johnny foi com a Sofia, a nossa fofolete

Aqui, a borboleta o distraiu

 Ele era noveleiro também.

Ele era noveleiro também

O fato é: eu não tenho a menor vontade de voltar a fazer certas coisas quando ouço histórias ou recebo convites relativos a algo que um dia amei fazer e que hoje eu não faço nem a pau.

Abomino balada, daquelas do tipo que é para dançar a noite inteira e conversar aos berros. Odeio filas para entrar no local onde o objetivo é se divertir. A última vez que fiz isso foi para ir à despedida de solteira de uma amiga. Ela escolheu um bar super da moda, em plena quinta-feira, localizado no Itaim – o endereço dos rapazes bombadinhos que usam camisa dobrada de forma descolada e das mulheres do tipo periguete que passam gloss em suas bocas cheias de botox, vestem shorts de cetim e têm cinco tons de cabelos. Querida Paula, fui por você e pela nossa amizade, mas que dificuldade. Afe! Mal conseguíamos conversar e a música estava tão alta que eu não me atrevi ficar além de 1 hora.

Camping e esportes radicais também já foram hobbies meus. Eu amava do fundo do meu coração e hoje não suporto nem pensar na idéia. Lembro que durante três anos pegava a minha mala, a minha barraca e o ônibus rumo à Visconde de Mauá. Passava um catso de um frio à noite e acordava dentro daquela barraca que fervia durante o dia por causa do calor. Comia miojo e dividia banheiro com quinze mil pessoas. Em uma das minhas férias, comprei um pacote de uma agência de esportes radicais e me mandei para Blumenau. Fiz rafting no Rio Itajaí de dia e de noite também. Fiz canyoning e rapel em uma cachoeira que tinha mais de 1 milhão de metros. Fiz trilha no meio de uma mata íngreme e escorregadia. E só não pulei de paraquedas porque a grana não deu. Atualmente ir à montanha russa e ao trem-fantasma é o máximo que eu consigo fazer. O resto? Eu penso “Deus me livre” e sinto as minhas pernas amolecerem só de me imaginar fazendo qualquer coisa dessas. Hoje, o meu esporte radical é brincar com as minhas sobrinhas sob um sol de 50º na praia, correndo atrás das cocós (pombas) e bancando o tubarão.

O que aconteceu? Eu não sei, só sei que amo ficar em casa, assistindo a filmes, lendo ou falando bobagens ao lado do Frango. Amo ir ao Luandão e ficar por horas rindo das histórias mais loucas contadas por todos aqueles fiéis clientes do bar mais fedido e amado da Rafael de Barros. Já rolou e rola de tudo por lá: infinitas DRs (o famigerado “discutir a relação”), sinopses de filmes incríveis, inimigo-secreto, declarações, despedidas, comemorações, desabafos profissionais, pessoais e, claro, os devaneios típicos de uma galera perturbada, densa e cheia da poesia. Lá a gente canta versos de músicas lindas e também sucessos bregas inesquecíveis do Ritchie e da Rosana. Discute-se política, comportamentos e relacionamentos. Rola fofoca, bafão, veneno. Já chorei e vi alguns deles chorar. E sempre rola muita risada. É um lugar de encontros e onde eu realmente me encontro.

Este texto foi escrito porque a Maíra, a Barbie que me substituiu profissionalmente, disse ontem lá no Luandão que hoje iria pular de paraquedas. E eu, em algum momento, fui questionada: se pular era um grande desejo seu, o que aconteceu para você ter mudado de ideia?

Teria eu ficado realmente velha? Embora o meu 35º aniversário esteja chegando, eu não me sinto velha. Sinto apenas que muita coisa que eu curtia até dez anos atrás mudou e que as minhas novas escolhas são apenas novas escolhas. Diferentes. Concluo, portanto, que muitas coisas mudaram na minha vida, mas eu continuo quase a mesma louca, se divertindo com outro tipo de loucura.  

 Agora vou ligar para a Barbie e ver se a louca tá viva.

Parte do Luandão. Há outras fotos aqui

Quanto às fotos do rapel, eu juro que tenho registros daquela aventura. Vou digitalizar e colocar aqui até segunda-feira, dia 11. Eu tenho prova, sêo juiz! Provas!

Nada mais importa

Este ano eu não quero fazer promessas.  Embora essa já seja uma resolução, melhor eu não vir com aquele meu papinho furado de ir à academia, rever semanalmente os meus extratos bancários, viajar para não sei aonde, estudar, telefonar mais para não sei quem…

Este ano continuo com o mesmo desejo de 2009.

Este ano eu quero ser mãe.

Balanço 2009

Caro 2009,

Gostei de você, meu caro. Gostei das surpresas que você preparou pra mim, uma delas foi particularmente especial. Me pegou de surpresa, é verdade, mas depois do susto, veio a sensação de que a vida taí pra não fazer o menor sentido mesmo. 2009, portanto, é um ano para não questionar.

No balanço geral, sofri com três acontecimentos. O primeiro foi presenciar a feição de mais de 100 funcionários sendo demitidos de uma fábrica, que teve suas atividades suspensas temporariamente. Foi duro assistir àquilo bancando a profissional. Na primeira oportunidade, lembro que chorei por bastante tempo e depois percebi o quanto tal experiência havia sido rica, única e válida. Sei que vou levar até o fim dos meus dias a lição aprendida naquele lugar e ensinada por pessoas tão simples.

O pedido de demissão de uma super amiga minha também foi um fato sofrido. E dá-lhe chororô e incapacidade para aceitar e superar tal ausência. Só não foi pior, porque dá um orgulho danado de ser amiga dela. A mocinha tem assinando várias reportagens em uma das revistas mais respeitadas desse Brasil. E mesmo sendo todo esse sucesso, toda essa promessa, ela pede conselho pra mim (logo pra mim!) de como chegar no mocinho ruivo da redação. Ah, e ela também ainda dá as gafes dela, permitindo assim que sua essência, doce essência, seja mantida. Isso tudo prova o quanto ela é perfeita.

O terceiro fato foi enfrentar ao lado da Vizi um dos seus momentos mais difíceis. Foi duro não saber responder quando e se aquela dor iria passar. Duro não ter respostas para amigos, ficar com vontade de arrancar aquela angústia e não ter como, porque só o tempo, e sempre ele, ameniza, cicatriza, passa.

As surpresas boas, meu caro 2009, foram os laços que ficaram mais fortalecidos  com certas pessoas que, se antes eram amigas, hoje se tornaram irmãs ou no mínimo pessoas ainda mais especiais. O casamento da Paulinha e do Luis foi sensacional também. São duas pessoas tão queridas que felicidade é pouco a se desejar. Eles merecem mais, bem mais. Além disso, não há como não falar sobre a minha mudança na área profissional. Eu sei que não é pra questionar, mas até hoje me pergunto se realmente eu mereço uma coisa tão bacana assim.

Foi em 2009 também que ouvi uma das histórias mais lindas de toda essa vida, e foi contada por ele . Obrigada, meu querido, por eu saber que há pessoas que acordavam para buscar o dia. Essa história é uma das muitas que levo para a minha vida inteira, porque prova o quanto a vida é deliciosamente boa e válida.

Quanto a 2010…bem, tô com medo da cirurgia, essa é a verdade. Além da dor, vou ter dificuldade para comer, para rir e para falar. Tudo o que é mais gostoso, claro, será impossível de se fazer por um tempo. Mas também sei que vai dar tudo certo, porque isso aí é fichinha para a dona Paola Del Monaco aqui. E sei que vai valer um sorriso novo. Tão novo quanto 2010.

Assim como o velho Ebenezer Scrooge, do clássico Os fantasmas de Scrooge, eu recebo visitas dos fantasmas do passado, do presente e do futuro. Na animação Scrooge começa as férias de Natal como de costume: mesquinho e de mau-humor, berrando com seu fiel assistente e com seu alegre sobrinho. Mas quando os fantasmas dos natais Passado, Presente e Futuro o levam em uma surpreendente jornada que revela as verdades que o velho Scrooge reluta em enfrentar, ele se dá conta que deve abrir seu coração para desfazer anos de maldades, antes que seja tarde.

Diferentemente do velho ranzinza, eu não sou tão rabugenta assim, não berro com assistentes e muito menos com os meu sobrinhos. E, convenhamos, eu não tenho o coração de gelo como o sêo Ebenezer. Mas há, sim, verdades que reluto em enfrentar. E aí o fantasma do passado vem, azucrina, esfrega na minha cara determinadas escolhas, decisões e situações que me fazem mergulhar na complexidade da questão. Por isso que a Lucélia, minha terapeuta, vive brigando comigo e mostrando por que não devo olhar para trás, mas às vezes o fantasma atormenta tanto que chego a pensar que é mais fácil eu contratar os Ghostbusters do que ir à terapia.

Como se não bastasse as minhas brigas com o passado, vem o fantasma do presente para me confundir, reclamar infinitas vezes que eu não tenho cuidado de mim, cuidado com as minhas escolhas, cuidado com tudo, porque tudo tem uma consequência. Ele é cheio do blá blá blá. Aí quando ele vê que eu já tô entendiada com seu discurso, ele blasfema: vai me ignorar? Pois vou chamar o meu amigo! E aí vem o fantasma do futuro com tudo aquilo que me dá medo. Nada do que ele mostra é exatamente o que irá acontecer, mas ele prova por A + B quais são as possíveis consequências, caso eu faça isso ou aquilo, caso eu opte por X caminho ou caso eu decida não fazer isso ou aquilo. É o mais ameaçador. É quem mais me aterroriza. É um cretino e não passa de um moralista alienado de merda. Pronto, falei!

Às vezes consigo mandar todos pastarem e, assim, eles somem nas trevas. Aí eu levo a vida, sem olhar pra trás, sem me arrepender, como já dizia aquela musiquinha natalina. E levo o meu dia como se não houvesse amanhã, como já dizia Renatão. E o futuro? o futuro é duvidoso, como já dizia Cazuza. E eu não digo mais nada, porque os fantasmas irão debochar e usar isso tudo contra mim. Ridículos!

Pronto, falei!

Eu já escrevi aqui qualquer coisa sobre a minha mania em ler horóscopo. Não só gosto como concordo com o sêo Quiroga quando ele fala as coisas mais certeiras do mundo em relação ao meu momento ou ao meu dia. E hoje o bicho falou diretamente comigo. Só não escreveu “Prezada Paola” porque ele é todo misterioso e esse é o seu jeito em mandar recado para mim. Mas se ele fosse mais explícito, escreveria pra mim “viu só, mocinha, como eu sei o que vc. pensa e/ou sente?”.

Não posso nem contestar. Tenho mesmo que concordar, assinar embaixo e reconhecer firma quanto ao que ele escreveu hoje sobre os súditos capricornianos. Ele só não acertou como me fez até ruborizar, sorrir de um jeito bem malicioso e levar uma das mãos à boca. Como ele pode saber tanto?

Capricórnio – 22 de novembro

É evidente que na realidade concreta não se pode tanto quanto o que a imaginação propõe. Porém, que sabor teria  a vida sem esta discordância? Afinal, é a sensação de algo faltar que movimenta e engrenagem do mundo.

Momento “pronto, falei”:  Eu não vejo a hora de ler todas aquelas revistas que trazem matérias sobre “veja o que os astros prevêem para o ano de 2010”.

A última carta

Rasgo na alma. Tapa na cara. Destino vão. Espírito despedaçado. Corpo inerte. Mente distante. Olhar apagado. Coração esmigalhado.  Ausência do chão. Invalidez.

A frieza das palavras. A história desconfigurada. O nó na garganta. A praticidade assustadora. O ônus da catástrofe. A deficiência na compreensão. A humilhação.

E for fim, os questionamentos eternos.

Geração doentia

Foi-se o tempo que estudantes revolucionavam a história de um país de uma forma heróica que enchia de orgulho muita gente. Acabo de reler “Anos Rebeldes”, de Gilberto Braga. Estou novamente tomada por toda aquela revolução que modificou a sociedade e desafiou o regime ditatorial implementado em 1964 pelo Golpe Militar. Em 1992 Anos Rebeldes virou minissérie e a minissérie influenciou e inspirou milhares de estudantes a protestar contra Fernando Collor de Melo e a corrupção no país. Surgiram assim os caras-pintadas que marchavam nas ruas, de camiseta preta e rosto pintado de verde e amarelo, gritando “fora Collor e o FMI!”.

Me lembro desse dia. Eu nem sabia o que diabos era o FMI, mas eu e alguns amigos do colégio voamos para a Av. Paulista ávidos por mudanças e a queda do presidente. Eu pesquei tudo no trajeto do ônibus por causa de um garoto que discursava como um líder nato sobre o “tal do FMI”.  A partir daí planejávamos um Diretório Acadêmico, o fim de mídias alienadas e traçávamos a derrubada da elite burguesa capitalista. Segurei com o maior patriotismo do mundo a faixa “Impeachment!” me permitindo bradar contra roubalheiras. Os caras-pintadas viviam a liberdade de expressão, um dos maiores ideais dos estudantes de 1968. O som da manifestação dos caras-pintadas não era os de cascos de cavalos nem os das sirenes que tanto os estudantes de 68 ouviam. O som era a voz de milhares de estudantes cantando Alegria, Alegria, de Caetano Veloso.

Confesso que, ao chegar em casa, eu quis colocar os pés em uma bacia com sal e umas rodelas de pepino no rosto, porque a combinação “sol + guache” havia triturado a minha pele. Também não consegui participar nem da primeira reunião do movimento estudantil, porque não fui capaz de vencer as regras nada democráticas da dona Idalina, que ditava histericamente: “vai estudar e não discuta comigo, porque eu sou sua mãe! Não quero saber de filha minha metida em confusão”. Eu não mudei o mundo nem o sistema educacional marginalizado nem a condição precária do país. O mundo mudou e pra pior, principalmente os estudantes.

O episódio ocorrido na Uniban é algo tão inacreditável que chego a me perguntar com bastante saudosismo, e como se eu tivesse 80 anos de idade, o que aconteceu com a juventude? No dia 22 de outubro, a aluna Geisy de Arruda foi hostilizada por alunos da Uniban por ir à universidade com um vestido vermelho curto. No sábado a Uniban anunciava que a expulsão da aluna teria ocorrido por “desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade”.

Há 20 anos um estudante chinês emocionava o mundo se colocando a frente de um tanque de guerra, durante protesto na Praça da Paz Celestial, desafiando tropas militares. Comemorava-se também a queda do muro de Berlim. Por que, então, em pleno século 21 os jovens fizeram toda aquela manifestação na Uniban? E por que a Uniban tomou a decisão medíocre de expulsar a garota?

Estamos prestes a viver o ano de 2010 e concluo que somos um país democrático hipócrita e que continuamos com conceitos e preconceitos alienados e com aquele conservadorismo vergonhoso. A reação dos estudantes da Uniban foi uma barbárie sem tamanho. Um bando de alunos sádicos, loucos, acéfalos que repudio. Eu queria mudar o mundo, lembra? O movimento estudantil de 68 também. Ninguém conseguiu. A prova está aí, com um bando de animal que ruge por causa de uma saia curta. Geraçãozinha de merda essa. Se dependermos de suas lutas, estamos fodidos. Faço das palavras de Rosana Hermann as minhas:

“…Esses absurdos todos que vemos, esse enaltecimento de pessoas sem noção, essa paixão pelo lixo, essa fúria em massa, essa vontade de destruir, de atacar, de julgar de forma preconceituosa e cruel, são sintomas de uma sociedade doentiamente contraditória e retrógrada que inclui todos nós. …A saia era curta? Era. Mais curta ainda é a tolerância do ser humano.” Para ler o texto dela na íntegra clique aqui.

 

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Duty Free

O texto da Danuza Leão, publicado na revista Claudia deste mês, me fez pensar no quanto algumas pessoas ricas são hipócritas. Nada contra até porque, antes ser hipócrita e rica do que pobre e mentirosa. Afe! Pobreza + mentira é o apocalipse!

Amo os textos da Danuza, mas esse em questão terminou em um tom tão pedante que me deu asco e uma vontade louca de odiá-la. O texto acaba mais ou menos assim: “…ao chegar no free shop, bastam uns óculos escuros novos, uns chocolates suíços e uns creminhos para que volte a reinar a paz no meu coração. Como a vida pode ser simples”. Hãããããã?!

Longe de mim afirmar que eu não adoraria gastar doletas no free shop, me jogar nos chocolates suíços e adquirir óculos novinhos em folha, mas dizer que isso faz com que a paz volte a reinar no meu coração e finalizar com um suspiro dizendo “como a vida pode ser simples” é hipócrita demais. Este é o simples no mundo de quem nasceu em berço de ouro? Pena.

A vida pode ser simples e plenamente bela em uma praia comendo manjubinhas fritas acompanhadas por uma bebida estupidamente gelada, só para dar um exemplo em um dia especialmente quente como o de hoje. Com um calor do capeta, hoje a temperatura chegou perto dos 80 graus aqui em São Paulo. A vida pode ser simples quando encontramos pessoas extremamente queridas, divertidas e com um bom papo. Pode ser simples em casa assistindo a filmes com um balde de pipoca ou com uma barra de chocolate, não necessariamente suíço. Pode ser simples por causa do olhar- doce do seu cachorro bobo ou do olhar-demente que ele faz quando quer que você brinque com ele.

Eu poderia fazer uma lista infinita aqui, mas não é o caso. Também é preciso fazer uma ressalva: o texto da Danuza tem todo um contexto, mas me incomodou demais ela juntar a última frase com a idéia das comprinhas no free shop. Ficou pedante. Esnobe. Raso. Eu, na minha ousadia top, desabafei aqui. Este é o caso. Acho que eu queria só desabafar e dizer que eu iria me ferrar se eu tivesse que perceber que vida pode ser simples por causa de uma passadinha no free shop.

Sentença

Cicatriz será sempre sinônimo de algo profundamente doloroso, representando – para quem a carrega – a marca de uma agressão física e emocional. O tempo, em geral, mostra às vítimas que tal sinal desenhado na pele tem o seu outro lado: a superação. Assim encaro a risca de 18 cm que divide o meu abdômen.

Impossível afirmar que me orgulho dela, até porque me remete a um dos piores tormentos enfrentados por mim no difícil agosto de 1998. Os exames apontaram câncer de ovário e o médico que me diagnosticou foi frio e verdadeiro: “você está com câncer”.

Aos 23 anos eu tive bastante dificuldade em compreender e assimilar aquelas informações. Dr. Marcio me tranqüilizava dizendo que se eu fosse precisar de quimioterapia, eu não deveria encarar aquilo como um bicho de sete cabeças. Deveria eu perguntar “quanto tempo de vida eu tenho?”. O que ele queria dizer com quimioterapia? Que provação era aquela e como encará-la eram alguns dos meus questionamentos.

O câncer de ovário é considerado o tumor mais letal a atingir as mulheres e tem fama de matar silenciosamente. Confusa, aterrorizada e torcendo por opiniões diferentes, procurei cinco especialistas. Todos diziam que operar era urgente e preciso. Por causa dos milhões de pontos internos, eu não pude rir, levantar sozinha, nem falar alto durante algumas semanas. Imagina o que isso significa para alguém que fala, ri e não para quieta um segundo? Todo o movimento realizado era quase uma aula de tai chi chuan, tudo muito devagar, controlando respiração, andar etc.

Apesar da biopsia, de discutir com Deus, apesar do corte, da peça retirada medindo cerca de 20cm de diâmetro, apesar da remoção de um ovário e de uma trompa, apesar do medo e das incertezas, eu não pude deixar de reconhecer que alguém lá em cima gostava bastante de mim. Eu tinha tido uma segunda chance. 

Onze anos depois fica fácil contar a história, até porque muitas das questões (científicas, claro) já foram respondidas. Difícil é vestir um biquíni ou afirmar que eu me acostumei com tal marca. Não gosto de vê-la, embora eu saiba que o que havia antes dela era pior. Por isso prefiro da forma que está: caso enfrentado, superado e curado. Por ser um tumor do tipo boderline, a malignidade existe e é constatada, mas é baixa.

Não só sobrevivi sem a necessidade de quimioterapia, como pude ter a certeza de que somos capazes de enfrentar aquilo que julgamos ser o pior. Claro que cada um tem o seu segredo. O meu? Família, fé, amigos, sorte e a mãozinha de alguém lá de cima. Você já teve uma segunda chance?

Há dois anos participei de uma matéria sobre câncer de ovário publicada na revista Claudia. Vale a pena conferir e ficar atenta aos sintomas. Para acessar clique aqui

Made in Sergipe

O bom em mudar de área profissional traz não só as descobertas do mundo completamente novo como certos benefícios. No meu caso, cultural. Em pouquíssimo tempo já fui à peça do Fagundes, ao show da Maria Rita, à pré-estreias de ótimos filmes, como a do “Salve Geral”, e já trabalhei com os galãs de algumas novelas das oito. Um deles trocou a maior ideia comigo sobre a minha tatoo (Are Baba!) e o outro me fez ter pensamentos sujos por conta de uma conversa sobre beijo técnico.    

Teve gente que apostou que eu estaria arranhando a minha carreira, mas teve muita gente que não só me encorajou, como vibrou e torceu pelo meu sucesso. Como estou há apenas pouco mais de 40 dias, tudo ainda é muito legal, engraçado, divertido e extremamente rico. Estou tendo aulas deliciosas sobre a sétima arte e a importância dos festivais e das mostras de cinema, graças à Fabiana, garota que conheci há quase oito anos. 

Olho-a atualmente e vejo o trator que ela se transformou. Aquela rapariga-sergipana-de-fala-rápida que conheci lá trás continua a mesma e ao mesmo tempo mudou tanto! Está repaginada, segura, independente e mais apaixonada pela vida. Contagia tanto que às vezes perdemos o fôlego. De rir, de chorar e de rir e chorar ao mesmo tempo. 

Fomos uma dupla-guerreira durante três anos em um lugar que estava mais para inferno do que para uma agência. A responsável por isso era uma carioca que desestruturou a italiana aqui e a mocinha made in Sergipe.  Mas uma coisa é certa: a louca do Rio de Janeiro nos uniu. Depois de um café numa livraria recheado de conversas densas e perturbadas a gente nunca mais se largou e desde então somos irmãs. 

No dia 10 de setembro eu postei um texto aqui sobre o meu amigo Bil e essa moça quase me matou! Me ligou na hora blasfemando: morte ao Bil! Morte ao Bil!!!

Doida essa daí! E eu que não sou abestada resolvi escrever esse texto antes que ela sacasse a peixeira!

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Fabi, eu e Camis (outra doida-guerreira – encontrada sob os escombros dos atentados terroristas da carioca-louca – que vai me xingar dizendo que eu ainda não escrevi nada sobre nossa amizade, principalmente porque é leitora e comentarista assídua deste blog. Amiguinha, amo-te também!)

 

fabi pe e camis

P.S. A maioria dos amigos da Fabi se chocou com o termo “rapariga”. Não é de se estranhar, afinal o termo por mim usado – na maior ingenuidade – tem um significado pra lá de pejorativo. Algo como “mulher da vida”. Juro, juro que eu imaginava que o termo era algo como guria é em Porto Alegre, ragazza é na Itália e rapariga é em Portugal. Eu tenho prova de que muita gente quis me matar. Amigos dela escreveram falando em jagunços do sertão e “a peixeira vai rolar”. Medoooooo. Será que eles acreditariam que a minha intenção foi a melhor das melhores?

Eu sempre cultivei um carinho especial pelo mês de outubro. Quando criança, por motivos óbvios, eu esperava ansiosamente pelo dia 12. Esta data era especial e os meus pais a tornavam mais especial ainda, fazendo com que eu e os meus irmãos a valorizasse verdadeiramente. Claro que eles podiam nos dar certos presentes a qualquer momento. Mas, espertos, diziam que ganharíamos certos regalos se fôssemos bons alunos na escola e se também fôssemos obedientes. Era a regra básica. Dessa forma, crescemos entendendo que as coisas não caem do céu, que há momento certo para tudo e que tínhamos de merecer.

Um dos presentes de que mais gostei foi um carrinho de supermercado vermelho, com rodas amarelas. Lembro que coloquei o urso da Avon na cadeirinha do carrinho e fiquei andando com ele pra cima e pra baixo, pegando latas de azeite e macarrão do armário da cozinha, fingindo ser uma dona de casa perfeita. Não tenho a menor idéia de quantos anos eu tinha, mas eu jamais esqueci. O macarrã continua fazendo parte da lista de compras, grazie a Dio! 

É também em outubro que se comemora o Dia de São Cosme e Damião. E é nesta data que a Casé envia um mimo para os Very Important People, e eu –  rá! – estou nesse mailing VIP, minha gente! Desculpem, mas a criança mimada e metida que sou não podia deixar de se deslumbrar com tal fato.  Dois cupcakes estupidamente deliciosos, feitos pelo chef francês Nicolas Saretto, estavam acondicionados em uma embalagem incrivelmente linda, que obviamente guardei com carinho.

Mas é em outubro que eu também comemoro uma das datas mais significativas: o meu casamento. Segundo Fernanda Guerra, uma das minhas amigas mais queridas, tal evento foi algo tipicamente Almodóvar. Primeiro porque ocorreu duas vezes e com a mesma pessoa: uma no civil e outra, dois anos mais tarde, na igreja. O fato é que, depois da cerimônia religiosa, comemoramos o evento no Grazie a Dio. Vamos combinar, pessoal, que não é todo dia que se vê alguém chegando em um barzinho vestida de noiva e trocando tal traje por outro mais casual em um banheiro minúsculo. Sem contar que, todos – sem exceção – disseram que foi o noivo que roubou a cena (e roubou mesmo, emocionando todo mundo). Sem contar que, ao contrário de muitas noivas que entram com os olhos marejados ou chorando, eu entrei rachando o bico, tamanha era a minha felicidade.

Sem contar que eu esqueci de ir à manicure, sem contar que o moço que filmou não conseguiu dar nenhum close no casal, porque a noiva mede menos de 1 metro e meio e o noivo tem 1 metro e 90, sem contar que o buffet que havíamos contratado faliu antes do evento acontecer, e sem contar que…bom, é uma lista imensa. Almodóvar, favor entrar em contato comigo. Eu conto tudo, com detalhes, para a sua próxima produção.

Eu pretendo me casar de novo com a mesma pessoa. Tá, eu sei, é renovação de votos. Seja o que for. Dessa vez, quero a festa que a gente não teve, com direito a chuva de papel e aqueles clipes que contam a história do casal por meio de fotos. Bom melhor não, porque contar 11 anos vai tomar um certo tempo da festa…tá, prometo fazer um clipe bem bacana de cinco minutos. Vou pedir o meu marido em casamento e já volto. Se ele disser que prefere um churrasco, eu arrebento a cara dele e arrumo outro marido!

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Não deu mesmo para fazer um close do casal…

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A embalagem dos cupcakes não é linda?

Ela quis fazer com que você soubesse de tudo naquele curtíssimo tempo que tinham. Quis contar e ouvir todas as suas histórias. Ao menos, muita coisa. Era quase um desespero para se fazer conhecer e te conhecer. Era um desespero de querer recuperar todos aqueles anos que  distanciaram ela de você e vice e versa. 

Aí quando ela se deu conta do que sentia, preferiu não dizer, porque já tinha desembestado a falar tanta coisa que achou que você iria pensar que aquela seria apenas uma frase momentânea, solta, tola. Não era.  Tola foi ela que não falou, porque se iludiu acreditando que haveria o momento certo. 

Mas o momento era aquele. Ela, mais uma vez, esperou e perdeu. Assim como havia feito anos antes. O momento passou. Foi isso que aconteceu. Vocês deixaram passar todos os momentos. Por razões diversas e tolas. 

Hoje, apenas um desses personagens foi, ou parece estar, bem determinado a não esperar por nenhum momento. Para ele, o momento passou e a história foi resumida a uma passagem desastrosa. Pena.

Hoje, se para ela nada disso passou , se a história é resumida de uma forma completamente diferente da versão dele, ou ainda,  se ela sente ou vive da forma que vive só há uma explicação. Explicação dada pelo personagem de Woody Allen em “Crimes e Pecados” que diz: “Somos a soma das nossas decisões”. 

Plagiando o moço da TV, Pedro Bial, a gente é o que a gente escolhe ser, o destino pouco tem a ver com isso.